domingo, 29 de julho de 2012

7 Dias (2010)

Bruno Hamel é um cirurgião de 38 anos. Ele mora em Drummondville com a sua esposa Sylvie e a sua filha Jasmine de 8 anos. Seu mundo desmorona num determinado fim de tarde, quando sua filha é estuprada e assassinada. Sendo o suspeito preso, uma duvidosa ideia surge na mente de Bruno. Ele planeja capturar o “monstro” e fazê-lo pagar por esse crime. No dia em que o acusado aparece no tribunal, Hamel o sequestra e envia à polícia uma breve mensagem dizendo que o estuprador e assassino de sua filha será torturado por 7 dias e então executado.


O tema da vingança já foi explorado de várias formas no cinema. A engenhosa trilogia de Park Chan-wook e o duro preciosismo de "A Fonte da Donzela" de Ingmar Bergman figuram entre os bem sucedidos exemplos. "I Spit on your Grave", o primeiro, também merece destaque ao retratar o "toma lá dá cá" no extremismo alegórico do gênero exploitation.
Isto para falar que o canadense "Les 7 jours du talion" veio para marcar território num terreno já batido. O filme é bem interessante. De um ritmo plácido, a grande turbulência é, em sua maioria, desenvolvida na interpretação de Claude Legault, que supera expectativas.
A natureza reflexiva da obra fica bem explícita, e isso pode soar como um contra-senso, na bela escolha de metáforas relevantes para a desintegração e/ou desconstrução do que é considerado realidade e o subsequente auto-questionamento do protagonista - para isso basta lembrar, por exemplo, do viado morto em decomposição e das diferentes maneiras que ele é apresentado em momentos diversos.
Este filme é quase um ensaio sobre o vazio da existência. Que soe blasé, mas não há melhores palavras para descrever o que ele faz ao retratar a constante pulsão geral do ser humano que, como Bataille analisa com relação ao sexo em "O Erotismo", mais do que frequentemente resulta no nada. Desolador.

sábado, 28 de julho de 2012

Aurora (1927)

"Seduzido por uma moça da cidade, um fazendeiro tenta afogar sua mulher, mas desiste no último momento. Esta foge para a cidade, mas ele a segue para provar o seu amor. Vencedor de 3 Oscar, incluindo melhor atriz para Janet Gaynor (Nasce uma Estrela), Aurora é uma obra poética de grande beleza plástica, repleta de cenas inesquecíveis".


Murnau é um gênio. Quem já viu Nosferatu ou Fausto sempre espera deste artista algo para além do correto. E ainda assim Aurora é de um primor técnico surpreendente - montagem fantástica, efeitos especiais soberbos e boa direção de atores. Isto tudo inventa magia... a magia da empatia. Não há como imaginar uma era em que este filme não cause efeito. A maestria do Murnau autor está, acima de tudo, na condução da atenção do espectador. Independentemente de seus gostos e pontos de vista pessoais, quem se propõe a ver Aurora sentirá o que sentem os protagonistas retratados: rirá com vontade e chorará sem querer, se e quando F.W. Murnau quiser. Este drama está para o romance como os filmes de Chaplin para a comédia. Redentor mesmo na pieguice.

Filme inteiro no youtube com legenda em português

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Dracula in Pakistan (1967)

O Professor Tabini está desenvolvendo um elixir que ele acredita ser capaz de tornar o ser humano imortal. Quando faz o experimento em si mesmo, as coisas não saem como o planejado e ele morre. Sua assistente encontra seu corpo sem vida e o carrega para uma cripta no porão da casa do Professor. Infelizmente, para ela, ele se levanta da tumba e pula no seu pescoço.


Imprescindível para fãs de filmes de horror, "Zinda Laash" é um filme paquistanês que soa como uma espécie de José Mojica Marins encontrando com o terror bollywoodiano e da Hammer.
A escassez de falas, principalmente na primeira parte do filme, acaba por ressaltar a interessante trilha e efeitos sonoros que as tornam pontuais. A segunda parte desta obra Lollywoodiana, primeira a ganhar classificação X-rated no seu país de origem, é mais teatral em sua representação, com destaque para a ação em boa perseguição de carros e clímax com luta corporal.
E por falar em corpo, na falta de sua exposição, extrema sensualidade árabe feminina nos números musicais. Muito bom.

Filme completo no youtube com legenda em inglês


segunda-feira, 23 de julho de 2012

The Necro Files (1997)

"Um estuprador canibal levanta do túmulo como um zumbi maníaco por sexo comedor de carne humana! Dois policiais de Seattle, um culto satânico e um feto demônio voador tentam parar a luxúria enlouquecida do zumbi antes que ele possa matar novamente".


Engraçado e ridículo. Uma espécie de Troma Films encontrando o cinema de Baiestorf.
Bem, depois da sinopse acima não há muito a acrescentar. O filme é rodado em digital e parece um tanto amador, o que de determinado ponto de vista pode fazer parte do seu charme.
Se você se importa com boas atuações, roteiros minimamente bem escritos e efeitos especiais convincentes, este não é o seu filme. Agora, se você curte filmes de zumbi que as pessoas geralmente consideram pervertidos e toscos... bem... então junte-se ao fã-clube de "The Necro Files".
Muito embora a impressão geral prevalecente seja de que o filme de Matt Jaissle em muitos momentos não atinge a ousadia que pretende, qualquer outra discussão, incluindo a questão sobre trash intencional ou não, é menor diante da urgência por "sangueira e mulher pelada". Cool.


Download: torrent e legenda

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Trilogia "August Underground" (2001/2003/2007)

Filmes snuff são grotescos para uns, nojentos para outros, singulares para outros tantos e ainda há quem os ache apenas bobos. Este post trata de "August Underground", série concebida por Fred Vogel da Toetag Pictures, discutivelmente a mais polêmica do gênero durante a primeira década do novo milênio. Maiores informações: http://www.toetagpictures.com/

August Underground (2001)

Dois "serial killers" filmam vários de seus assassinatos com sua câmera de vídeo. 


O primeiro filme da série de Fred Vogel estabiliza padrões um tanto quanto viscerais que seriam resgatados, com mais ou menos sucesso, nas duas sequências seguintes. A captação amadora está aqui e o rascunho do retrato de um sadismo doentio também.
Para um filme em que o grande mérito estaria no pseudo-realismo, "August Underground" peca por alguns efeitos de maquiagem obviamente "fakes", mas isso não tira o estranho impacto da obra. Seus dois protagonistas, tanto o que está com a câmera quanto o que aparece diante dela a maior parte do tempo, convencem nas suas interpretações de seres desviantes que escrevem sua rotina com tinta de sangue e este fato por si só já faz a experiência valer.
Destaque para a última sequência na qual duas mulheres se insinuam para eles tirando a roupa durante uma festinha privada: a trilha sonora é muito boa e seu decorrer é assustadoramente consistente sem que haja nenhuma violência gráfica.



August Underground's Mordum (2003)

Dois perturbados amigos se juntam a outra pessoa para cometerem assassinatos aleatórios. Dentre outras coisas, eles sequestram casais com o objetivo de torturá-los de todas as formas que o espectador possa imaginar.


Filmeco mais doentinho e inocente. Doentinho porque... bem, em determinada cena um cara copula com a ferida aberta na barriga de um cadáver, só pra dar UM exemplo. Inocente porque a impressão que se tem é que uma molecada pegou uma câmera de mini dv com o objetivo de registrar suas ideias atrozes para chocar a sociedade. Até que ponto eles conseguem escandalizar é muito subjetivo.
O mérito de August Underground's Mordum, segundo e melhor filme da série, está na completa entrega catártica de seu elenco. Isto, ajudado pelo gore realista e convincente, faz com que a obra alcance uma realidade quase palpável, "qualidade" rara em snuffs em geral. O espectador que se predispõe a este tipo de experiência sabendo do que se trata é fisgado.
Plus: a trilha, para fãs de Death Metal, é ótima e Cristie Whiles, a protagonista, é uma gracinha com curiosa aptidão para o vômito auto-induzido.




August Underground's Penance (2007)

"Penance" mostra o declínio sombrio dos dois assassinos sem nome do filme anterior que continuam a registrar suas loucuras em seus caminhos para a destruição.


"Penance" não é bom. É bem verdade que pro final melhora, deixando a relação sexo/violência, tão importante neste tipo de filme, mais evidente; mas aí o interesse do espectador já se dispersou. De resto, Cristie Whiles, que não aparece o suficiente, tampouco está morbidamente sexy como em "Mordum"; aliás, percebe-se uma entrega muito contida do elenco, o que somado aos bonecos em cenas de gore extremo, contribui para o clima "fake" não proposital e ineficiente desta produção.
A sensação de que esta sequência, como é comum quando o assunto é uma franquia cinematográfica, foi feita só pelo dinheiro está sublinhada na apelação para as cenas de alimentação animal. A falta de criatividade demente comanda e o frenesi caótico cede lugar ao tédio enjoado. Nem mesmo um breve relance de um show do bom grupo de rock “The Murder Junkies” consegue dar maior credibilidade ao filme. Um pena.




quarta-feira, 18 de julho de 2012

Almas em Suplício (1945)

"Mildred Pierce é uma mãe dedicada, disposta a fazer tudo pela filha, a ambiciosa e ingrata Veda. Quando Mildred se torna a principal suspeita do assassinato do marido, conhecemos a sua história e descobrimos até onde pode chegar o seu amor de mãe"

Oscar de Melhor Atriz para Joan Crawford.


Filmásso. Estilo grande Hollywood. Dirigido por Michael Curtiz, que traz no currículo obras-primas como "Casablanca" e "Anjos da Cara Suja"; baseado num romance do talentoso escritor James M. Cain, mesmo autor de ótimos livros como "Indenização em Dobro" e "O Destino Bate à sua Porta" - ambos também adaptados para o cinema; e estrelado pela hipnotizante Joan Crawford acompanhada de competente elenco, não é de se surpreender que tenha sido sucesso de crítica e público na época em que foi lançado. Mesmo assim, com seis indicações ao Oscar, levou apenas um - o de melhor atriz para Crawford, a única estatueta que recebeu em sua carreira.
E desde quando Oscar é medida pra qualidade? Mesmo em suas épocas mais áureas, a Academia sempre deixou a desejar. Normal. Fato é que "Mildred Pierce" passa no teste do tempo. Apesar de não ser um noir típico, muitos elementos são pegos emprestados do subgênero: ambientes esfumaçados, fortes contrastes em preto e branco acentuando sombras, profundidade de campo em angulações estreitas; isto sem falar na trama desenvolvida em torno da questão de um crime, sendo que este crime é de uma autoria previsível que se faz menos importante diante do drama que o envolve.
Tirando as influências noir, entram fascinantes convenções cinematográficas de uma era distinta, como closes dados no rosto da protagonista, com uma combinação de foco e iluminação, dando um aspecto etéreo à imagem ali representada. Impossível, neste caso, não refletir sobre os tempos das divas e semi-deusas e em como eles, definitivamente, ficaram para trás. Não que uma análise da "linha evolutiva" do cinemão cause nostalgia. Aliás, esta questão é apenas um detalhe diante da eficácia do filme.


terça-feira, 17 de julho de 2012

Disco "Be My Baby: The Very Best of The Ronettes" (2011)

Com seus penteados avolumados e altos, dramáticos olhos de Cleópatra e sensualidade latente, o grupo vocal feminino THE RONETTES, liderado por Ronnie Spector, abriu caminho para futuras mulheres roqueiras que não tinham interesse em se encaixar no estereótipo feminino socialmente vigente e ajudou a definir uma era com seus hits majestos produzidos pelo indomável do “Wall of Sound” Phil Spector.
As 18 faixas presentes em "Be My Baby: The Very Best of The Ronettes" são todas gravações originais recentemente remasterizadas a partir das fitas master originais. Este disco cobre o clássico “Período Spector” das Ronettes: do brilhantismo estrondoso que as tornou ícones como "Be My Baby" e "Baby I Love You" até pérolas menos conhecidas, como “I Wish I Never Saw The Sunshine”, que exibem todo o poder vocal de Ronnie acompanhado da produção fantástica de Spector.
Ps1: Todas as faixas, tirando as de número 5 e 16, são de autoria e/ou co-autoria de Phil Spector.
Ps2: Todas as gravações originais são produzidas por Phil Spector, exceto “I Can Hear Music”, produzida por Jeff Barry, música que pela primeira vez se encontra dsiponível em cd.


Tracklist:
01 – Why Don’t They Let Us Fall In Love
02 – Be My Baby
03 – Baby, I Love You
04 – (The Best Part Of) Breakin’ Up
05 – So Young
06 – Do I Love You
07 – Walking In The Rain
08 – I Wonder
09 – When I Saw You
10 – You Baby
11 – Born To Be Together
12 – Is This What I Get For Loving You
13 – Paradise
14 – Here I Sit
15 – I Wish I Never Saw The Sunshine
16 – Everything Under The Sun
17 – I Can Hear Music
18 – You Came, You Saw, You Conquered




Smash Cut (2009)

"A trama segue um cineasta decepcionado com as críticas negativas que seu último trabalho recebeu. Certa noite, ele vai a um clube de striptease e conhece uma garota, que posteriormente acaba sendo morta em um acidente. Sem saber o que fazer com o cadáver, ele resolve usá-lo na direção de arte do seu próximo filme de terror".

Sasha Grey e David Hess em ação.

"Eu vejo o ato de fazer cinema como um negócio e tenho pena de quem o considera como sendo uma forma de arte", com esta frase do diretor Herschell Gordon Lewis "Smash Cut" abre seus créditos. E é com uma ironia de emocionar fãs do cineasta que o filme fecha com uma dedicatória explícita "à vida e à arte" do mestre Lewis. Não é para menos: o artista americano, vendo sua obra popularizada nos circuitos de "drive-ins" das terras do Tio Sam a partir dos anos 60, na busca por bons resultados financeiros acabou criando toda uma estética cinematográfica própria que até hoje influencia e fala com determinadas pessoas ligadas de alguma maneira à sétima arte.Há de se considerar que o grupo que reverencia a obra do "mestre do gore" hoje em dia é bastante seleto e de uma familiaridade que chega a se refletir entre seus membros. Consciente disso, "Smash Cut" é uma comédia sanguinolenta que funciona para o SEU público. Desde a escolha do elenco - que conta com David Hess e Michael Barryman, ícones "cult" do cinema de horror; Sasha Grey, uma das melhores atrizes pornô de todos os tempos; e o próprio lendário Herschell Gordon Lewis - até as opções estéticas dos pôsteres que fazem parte da cenografia, tudo soa como uma piada interna.
No fim, se há algo de errado com "Smash Cut" é o fato dele ser o tipo de filme que não se deixa ser escolhido, e sim que escolhe seus espectadores. E os escolhe de uma maneira um tanto quanto exclusiva, para a sorte e deleite de certos cinéfilos tortos.


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O mestre homenageado Herschell Gordon Lewis.

A Górgona (1964)

"No ano de 1910, na cidade rural Alemã de Vandorf, sete assassinatos foram cometidos nos últimos cinco anos, todas as vítimas transformadas em pedra. As autoridades locais temem que uma antiga lenda tenha se tornado realidade: a última das Górgonas assombra o local e transforma suas vítimas em pedra durante a lua cheia".


Terence Fisher é um cineasta clássico, no sentido dos meios usuais que usa para contar estórias de uma maneira eficiente - seus objetivos passam longe da inovação. Christopher Lee e Peter Cushing são bons atores que vêm da escola clássica de interpretação e que, por um ou vários acasos, se tornaram ícones do horror no cinema. As três personalidades têm em comum a ligação de seus nomes à mitológica produtora inglesa Hammer, que durante os anos 60 e 70 se notabilizou por seus filmes de horror. Pode-se dizer que tais filmes também foram trabalhados sob um prisma clássico, com seus toques góticos pincelando os séculos XVIII e XIV, em meio a grandes e obscuros castelos e pequenos povoados aterrorizados.
Conclusão: "The Gorgon" é um pequeno clássiso dos filmes de terror. Por quê? Porque mistura todos os elementos acima citados, muito embora a trama por vezes se arraste e tenha um desfecho desleixado. Mesmo assim, experiência obrigatória, e muito provavelmente satisfatória, para os fãs do gênero.


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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Resenha "Coração Envenenado - Minha Vida Com Os Ramones"

Coração Envenenado - Minha Vida Com Os Ramones, de Dee Dee Ramone e Veronica Kofman. Tradução de Paulo Salles. Editora Barracuda, 191 páginas. R$ 38,00



Não é segredo para quem já acompanhou entrevistas dadas por Douglas Glen Colvin, mais conhecido como Dee Dee Ramone, que o cara parecia ter um passarinho frenético preso dentro de sua caixa craniana. Isto está espelhado em sua escrita. É difícil imaginar o que seria de sua autobiografia, “Coração Envenenado – Minha Vida com os Ramones”, sem a co-autoria de Veronica Kofman. Talvez o livro ficasse tão prolixo quanto o romance de Dee Dee, “Chelsea Horror Hotel”, no qual descrições imaginariamente realistas passam uma impressão quase que de um processo de fluxo de consciência ironicamente inconsciente.
A sensação que predomina é a de que Kofman atuou como uma editora, aparando arestas e montando textos partindo de parágrafos prontos, como um pedreiro colocando tijolos na construção de uma parede. E talvez seja nisso que “Coração Envenenado” mais se pareça com uma boa música dos Ramones, grupo do qual Dee Dee era principal compositor e baixista: o muro textual é como o muro sonoro da banda num ritmo rápido, de curta duração e sem frescuras e espaços para o subtendido.
No prefácio para esta edição, o talentosíssimo jornalista André Barcinski escreve: “É uma das autobiografias mais honestas e sem-vergonha que já li”. Bom, honesta é difícil de dizer; mas sem-vergonha é um fato: “Quem entra numa banda como os Ramones não vem de um passado estável, porque essa não é uma forma de arte muito civilizada. O punk rock é feito por garotos furiosos querendo ser criativos. Acho que é por isso que os caras dos Ramones eram conhecidos por jogar, de apartamentos, TVs nas pessoas que estavam andando na rua” – alguém tem alguma dúvida?
Outra questão que é exposta neste livro são dois demônios que perseguiram Dee Dee durante toda a sua vida: heroína e crise de identidade. O primeiro é explorado, de forma até um pouco exaustiva e repetitiva, talvez de uma maneira que correspondesse à realidade do compositor, principalmente na parte final do livro; o segundo vem à tona nos inúmeros episódios contados nos quais Dee Dee tenta dissociar sua imagem dos Ramones - seja por um mero corte de cabelo diferente do costumeiro, seja pela gravação de um disco de “rap” – voltando sempre, de uma maneira ou de outra, ao seio da banda que ele diz no livro ser sua família, mesmo após ter saído oficialmente dela.
Enfim, o sujeito é um gênio da música que não se dava a devida importância e isto está refletido na maneira casual com que retrata seu convívio com Johnny Thunders e Stiv Bators, tanto quanto nas pinceladas lacônicas sobre sua infância na Alemanha e adolescência “outsider”. Os causos com relação aos Ramones são interessantes sob seu ponto de vista desglamourizado e sua visão dos outros integrantes do grupo, mesmo que superficial, é válida e muito condizente com outras biografias desses nova iorquinos que deram novo rumo ao espírito do rock.


Dee Dee Ramone morreu de overdose de heroína em 2002. Seu cabelo estava louro e ralo, muito diferente do corte tigelinha que usava nos Ramones, mas ele ainda tocava “Wart Hog”, sucesso do grupo, com as mais diversas bandas nos mais diversos lugares.

domingo, 15 de julho de 2012

13 Assassinos (2010)

"A história, ambientada no Japão Feudal, é centrada num homem que assassina e estupra inocentes, sempre protegido pela lei. Para o impedir, surge a força secreta dos treze assassinos, cada um com uma habilidade singular, dispostos a uma missão suicida para acabar com o mal".


Curte filmes de samurai? Se a sua resposta for positiva, este épico do cineasta Takashi Miike, um dos diretores mais prolíficos e talentosos das últimas duas décadas, se faz imperdível. Jūsannin no Shikaku é uma produção nipo-inglesa, remake do homônimo clássico de 1963. Mas esta obra-prima de Miike, quando analisada à luz do filme no qual se baseia, faz menos sentido do que se comparada a outro tesouro do cinema mundial, Os Sete Samurais, do magnânimo Akira Kurosawa. Aliás, o próprio filme original, de 63, é quase que uma soberba homenagem ao gênio de Kurosawa. Samurais, recrutados por alguém, se reúnem por uma causa justa - até o enredo básico é o mesmo.
Takashi Miike trafega bem por todos os gêneros nos quais se aventura. O diretor multifacetado é tão bem sucedido numa obra de horror quanto numa infantil, por exemplo. E tudo que ele faz traz um toque muito singular, um quê grotesco/surreal que o apreciador do seu cinema como um todo pode reconhecer facilmente. Isto não é diferente em 13 Assassinos. Como no filme de Kurosawa, ângulos baixos característicos, complexidade de caráter em vários personagens e extremo bom gosto na execução das cenas de ação deixam produções milionárias de Hollywood no chinelo. Ao mesmo tempo, este exemplar cinematográfico está cheio de Miike em suas brechas dantescas, flamejantes e loucas. Muito bom.


sábado, 14 de julho de 2012

Teenage Caveman (1958)


Um jovem homem desafia as leis de sua tribo à procura de respostas. O resultado de suas buscas acaba revelando mais do que ele imaginava.


É atribuída a Roger Corman a seguinte frase: dê-me dois figurantes e um arbusto que sou capaz de filmar a "Ascensão e Queda do Império Romano". O cinema deste genial cineasta e produtor americano representa bem tal máxima, onde o impossível fazia-se possível em busca de grana. É óbvio que obras do tipo das de Corman só poderiam ser construídas obtendo sucesso comercial no contexto histórico de sua época. Atualmente a maioria de seus filmes traz um gosto nostalgicamente ingênuo e divertido às almas ávidas do cinéfilo deslocado.
Este é o caso de "Teenage Caveman". É caricata a maneira como o "ato de questionar" é relacionado ao rito de passagem da adolescência para a idade adulta. Tudo em volta disto é muito exagerado na busca por ação em cenas onde maquetes malfeitas se misturam a animais de verdade simulando lutas entre monstros pré-históricos. Os figurinos são baratos e previsíveis; as atuações não são lá "essas coisas"; e gente fantasiada de feras nunca é assustador, mas quase sempre hilário. 
No entanto, nos idos tempos do reinado do Sr. Corman, parece que para obter lucro o cineasta independente precisava ousar de verdade - como exemplo de tal hipótese apresenta-se este filme que busca retratar era tão distinta dispondo de tão poucos recursos financeiros e técnicos.
E mais, para você que acha que o final de "O Planeta dos Macacos", feito 10 anos após esta obra de Corman, é fantástico e/ou revelador e/ou original, "O Adolescente Homem das Cavernas" é altamente recomendado. O desfecho do filme de 1958 vai além de mostrar o futuro como sendo fruto da destruição humana, pois ainda implica a este processo caráter cíclico. Muito bacana.
Como diz a letra da música homônima do grupo de rock Beat Happening, "Teenage Caveman" é o "clamor do selvagem" de uma longínqua estação em que o primitivismo de um cinema de guerrilha podia dar as mãos ao comercial e industrial sem que isso parecesse contraditório. Válido demais.
O único pesar é que a versão para download na internet parece ter as extremidades direita e esquerda do quadro cortadas; mas mesmo assim, dependendo do juízo de cada um, é melhor ver algo do que não ver nada.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Os que chegam com a noite (1971)

"Com a morte dos pais, casal de crianças fica sob a guarda da governanta e da preceptora. É o jardineiro da casa, porém, que os fascina e domina. Retrato da Inglaterra vitoriana, com ênfase na descoberta da sexualidade e da morte".


Esta obra deve ser considerada uma espécie de pré-sequência para "The Turn of the Screw", novela escrita por Henry James, que foi eficientemente adaptada para o cinema no filme "Os Inocentes" de 1961.
E que bela pré-sequência! Em "Os que chegam com a noite" a agressividade é direta. Não há espaço para a sugestão, pois ela sobraria. O efeito de "causa e consequência" se revela no que tem de mais sombrio enquanto as crianças se projetam naquilo que observam e selecionam como válido.
O descaramento voluptuoso da violência aqui apresentada só atinge tamanho grau de preciosidade porque as nuances do roteiro são muito bem valorizadas pelo diretor Michael Winner. Destaque também para a magistral atuação de Marlon Brando, um monstro que talvez só conseguisse alcançar tais picos de perfeição por julgar o trabalho de ator como sendo algo menor.


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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Os Meninos (1976)

Um casal de turistas ingleses chega a uma ilha onde todas as crianças ficaram loucas e estão assassinando os adultos.


Ótimo filme. Em comum com outra grande obra, "O Senhor das Moscas" de 1963, "¿Quién puede matar a un niño?" apresenta o tema da inocência infantil como sendo mais ligado ao instinto humano que à ideia de virtude ocidental. O desenvolver da trama e seu desfecho, que muito lembram os melhores filmes de zumbi de Romero, mostram o revanchismo como um processo ciclicamente nulo - não é por acaso que o filme começa com cenas documentais de crianças sofrendo.
Incomoda. Nada suaviza. Até a fotografia, com sua crueza clara, faz o suor brotar na testa do espectador. E em meio a crescente angústia, onde o caos caminha para o silêncio, comparações com questões sociais se fazem menores; já com questões humanas, maiores.
Padrões precisam ser invertidos para o errado ser notado? O fator provocador está mais presente na ficção que na realidade? Realidade? Melhor parar de pensar neste filme e ir comer uma pizza.


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terça-feira, 10 de julho de 2012

Slaughtered Vomit Dolls (2006)

Filmado de forma semi-documental, "Slaughtered Vomit Dolls" pretende ser o precursor de um novo subgênero , o "Vomit Gore". A protagonista do filme é uma bulímica stripper e prostituta de 19 anos chamada Angela Aberdeen. O "enredo" se concentra no estado psicológico de Angela, que passa a ter alucinações e pesadelos terríveis onde mulheres são brutalmente torturadas e assassinadas.


A sinopse dada acima é uma maneira de ver o filme. "Slaughtered Vomit Dolls" é um desfile de prostitutas e strippers, às quais são atribuídas relevâncias maléficas por meio de efeitos sonoros simples; algum gore fora de foco editado rapidamente em curtas sequências; mais auto-induções de vômito. Breve contraposição a isto está nos registros de uma menininha angelical e loira, como que num passado comum pré-perversão, que confere à obra, paradoxalmente, certa ingenuidade.
Não há ordem para os acontecimentos. É como se o espectador estivesse presente numa exposição de slides que se sucedem sem padrão narrativo linear algum, com audio sincronizado, versando sobre aspectos da morbidez humana. "Slaughtered..." está longe de inaugurar um subgênero qualquer, mas sem sombra de dúvida é um exercício particular no campo dos filmes de terror. Válido pra quem realmente é fã do gênero.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Wadd: A Vida e Época de John C. Holmes (1999)

John Wadd, ou John C. Holmes, não era tão bonito, nem tão inteligente, nem tão corajoso. Ele só tinha um pênis enorme e sabia transar. Unindo a isso seu jeito gentil e doce de tratar as atrizes, John Holmes construiu sua reputação de maior astro de filmes pornôs de todos os tempos, transformando-se numa personalidade cult. No entanto, sua vida particular era misteriosa e obscura, formando um quebra-cabeça complexo. Com vários depoimentos e entrevistas de jornalistas, atores, fotógrafos, editores, amigos, membros da família e até do cineastra consagrado Paul Thomas Anderson, este precioso documentário pretende dissecar várias facetas da vida de uma personalidade intrigante.


Alguns detalhes, como a relação de John Holmes com seus sobrinhos, são jogados meio que repentinamente e de qualquer maneira, especialmente nos minutos finais do filme. Tirando isso, "Wadd: A vida e época de John C. Holmes" chega muito próximo do que deveria ser a objetividade de um "documentário sério", apresentando diferentes pontos de vista sobre um mesmo tema. Leve-se em consideração o quanto isto deve ter sido difícil, tamanho o caráter fantástico da vida do ator em questão. Muito bom.



Ps1: este filme foi lançado no Brasil em DVD no ano de 2010 pelo selo "Magnus Opus".
Ps2: para quem se interessar, outro documentário super recomendável é "Porn Star: The Legend of Ron Jeremy". RON JEREMY! Falar mais o quê?

sábado, 7 de julho de 2012

Valhalla Rising - O Guerreiro Silencioso (2009)


One-Eye é um guerreiro brutal que nunca diz uma única palavra. Mantido prisioneiro numa aldeia, é forçado a lutar até a morte com outros guerreiros para o deleite do chefe da tribo até o dia em que escapa, levando junto o garoto que lhe dava água e comida enquanto estava aprisionado. A dupla logo se une a um grupo de vikings que pretende chegar à Terra Santa, mas o destino de todos será bem diferente do esperado.


É muito clichê de sabedoria de verniz falar sobre a fotografia de um filme, mas em "Valhalla Rising - O Guerreiro Silencioso" isto se faz necessário, pois ela é extremamente bela.
No mais, Nicolas Winding Refn se mostra um diretor extremamente autoral, capaz de fazer filmes mais lentos com vários elementos comuns ao gênero de ação. De uma agressividade introspectiva, como uma boa música do grupo de rock alternativo Sonic Youth.

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sexta-feira, 6 de julho de 2012

Shogun's Sadism (1976)


Duas estórias distintas passadas no Japão durante o Período Edo.
Na primeira estória, numa época em que cristãos eram perseguidos, Iori se apaixona por uma garota cristã. Quando a família da menina é capturada, o mestre de Iori, um louco sádico, a toma como sua escrava e a submete às mais escabrosas torturas com uma excitação extra pelo fato dela ser o alvo do amor de seu servo.
Na segunda estória, quando Sutezo é obrigado a trabalhar para o cruel dono de um bordel para o qual está devendo dinheiro, ele acaba virando amigo da jovem prostituta Sato. Juntos eles fogem e tentam se virar por meio de esquemas ilícitos.


Este filme é uma verdadeira relíquia para fãs do cinema extremo. Ele é pra você, fã de torture porn, gênero que discutivelmente teria começado com o primeiro "Jogos Mortais". Se alguém compartilha desta opinião, pode-se dizer que "Shogun's Sadism" definitivamente faz parte da linha evolutiva do gênero. Este filme também é para você, fã do cinema grotesco japonês, que quando é grotesco realmente o é, remontando as suas raízes.
Durante as cenas realistas de tortura é impossível não lembrar de Salò, de Pier Paolo Pasolini. Inclusive, a primeira estória compartilha deveras da filosofia sadeana, onde os mais fortes prevalecem sobre os mais fracos, a virtude é motivo de troça e há a total "coisificação" do corpo humano. O único fato que corta esta vertente são os poucos segundo finais que sugerem um final feliz em outro plano metafísico.
Já o segundo episódio é menos tenso. Além de um maior desenvolvimento das personalidades dos personagens, movimento que cria uma certa empatia com o espectador, há inclusive momentos de comédia que proporcionam certas pausas de alívio. Mesmo assim, num todo, a obra é extremamente impiedosa.
"Shogun's Sadism" é bem dirigido e filmado. A classe do cinema japonês, na maioria das vezes soberana, se mantém como geralmente acontece nos filmes nipônicos de época. Os atores cumprem seu papel e a trilha sonora pouco usual está de acordo com o incômodo causado por este exercício sanguinolento.
Se o filme de Yûji Makiguchi pretende exercer alguma crítica com relação à história, ela pode ser sublinhada com as imagens de horror real que aparecem nos créditos. O ponto negativo fica para o embaçamento sobre as genitálias dos personagens quando estas deveriam aparecer, procedimento que ocorre, inclusive, nos filmes pornôs japoneses atuais. E isto também é uma questão aqui no ocidente, mais velada mas válida para discussão. É estranho e parece hipócrita que a violência extrema tenha mais aceitação do que certas partes do corpo, mas isso já é outro papo que não cabe aqui.
Enfim, confiram esta experiência.




domingo, 1 de julho de 2012

Dagon (2001)

Baseado no Conto de H.P. Lovecraft. Dois jovens turistas, Bárbara e Paul, vão à procura de ajuda em uma pequena cidade chamada Imboca (Innsmouth), na costa de Galiza, na Espanha, depois que o barco em que estavam afunda. No entanto, os moradores da cidade não são amigáveis, nem mesmo humanos, com excessão de um bêbado chamado Ezequiel. Este último diz a Paul como os habitantes da cidade derrubaram o cristianismo a favor do deus Dagon, que lhes trouxe riquezas do fundo do mar. Desde então eles se tornaram obedientes à bela criatura Uxía. Estranhamente ela aparece a Paul em seus sonhos e mesmo antes de se encontrarem ela o salva da morte. No entanto, seus planos para ele e Bárbara desencadearão um horror além da imaginação.


Até prende a atenção.
A computação gráfica em "Dagon" traz um quê de "defeito especial" à adaptação de Lovecraft - aliás, as adaptações do autor norte-americano pelo diretor Stuart Gordon, cheias de audaz sanguinolência e humor negro, são quase um subgênero em si mesmas. Enfim, válido. Os filmes de Gordon (homenageado no Fantaspoa 2012) são todos válidos. Uns mais, outros menos.


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