sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Maniac (1934)

Um ex-ator de "vaudeville" com o talento para imitar pessoas ajuda um cientista louco a reanimar cadáveres quando acaba enlouquecendo também.


Delicioso clássico imprescindível para fãs de tranqueiras. "Maniac" se encaixa naquele padrão comum de filmes que usavam o didatismo como pretexto para exibir assuntos polêmicos no cinema. Acontece que o resultado aqui, numa estória "inspirada" no conto "The Black Cat" de Edgar Allan Poe, é uma espécie de precursor de estereótipos que abarcam padrões do exploitation, do trash e das produções B em geral.
Desleixo é a palavra. Atuações histéricas e hilariantes ajudam a construir o clima deste filmeco esquisito. Mas não é só isso. Faz-se necessário dizer que, se Herschel Gordon Lewis fez o "Cidadão Kane" do gore com seu "Blood Feast", considerando toda a exuberância nauseante de suas cores vívidas, muitos dos elementos de demência transgressora já se encontram em "Maniac": um coração realista pulsando dentro de um recipiente, o personagem do ex-ator arrancando um olho de um gato para logo em seguida comê-lo, alusões a necrofilia, pancadaria brutal e explícita entre mulheres, muitas tetinhas de fora... enfim, só coisa boa.
Aliás, as sobreposições que acontecem com cenas de um dos clássicos absolutos de todos os tempos do horror, "Häxan: Witchcraft Through the Ages", vêm bem a calhar, pois também ressaltam o quê positivamente mambembe deste pequeno louco filmeco. Pesquisem, divulguem, comprem, baixem, assistam na íntegra no youtube - afinal, o subestimado filme de Dwain Esper já caiu em domínio público.
"Maniac" é uma das obras mais divertidamente "ruins" da história do cinema. "Freak" ao limite, ainda mais levando em conta seu contexto e época de produção. Altamente recomendado.


Filme sem legendas na íntegra no youtube.


Bad Guy (2001)

Um estranho vê uma colegial com seu namorado na rua. Ele tenta beijá-la. No que o namorado não consegue separá-los, pessoas aparecem e batem no estranho. A colegial exige desculpas. O estranho permanece quieto. Então ela lhe bate na cara e cospe nele. No dia seguinte o estranho põe em prática um plano para arruinar a vida da menina.


Kim Ki Duk é o cineasta das sutilezas. Quando seus temas não são incomuns, ele trata de retratar o ordinário de maneira extremamente singular. "Bad Guy" é um belo filme. Lapidado, ele mostra a relação cafetão/prostituta de um prisma distinto e único. Ninguém é vilão - apesar do título do filme -, ninguém é herói. Os personagens do coreano são filhos de suas próprias paixões, o que não permite um julgamento banal. Dentro de uma estética cinematográfica delicada e poética, em que a condução branda da narrativa convida à reflexão, isso faz diferença.
O ponto estranho fica por conta da trilha sonora que, por momentos, traz fisgadas inapropriadamente kitsch à obra.

Trailer legendado em inglês

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Bronson (2008)

Um jovem condenado a 7 anos por roubar uma agência de correios acaba por passar 30 anos na prisão em total isolamento. Durante este tempo, sua personalidade é suplantada por seu alter ego, Charles Bronson.


Quem assiste a Drive, Valhalla Rising e Bronson, não necessariamene nesta ordem, pode perceber uma veia autoral que parece nutrir distintamente a criatividade do cineasta Nicolas Winding Refn. As três obras acima citadas apresentam um artista que molda com formas estóicas o impulso destrutivo do ser humano. A beleza e unicidade na representação do caos são desconcertantes e não seria exagero chamar Winding Refn de Ingmar Bergman da violência.
Bronson condensa o supra-sumo essencial também dissecado em Drive e/ou Valhalla Rising. Se alguém estiver em dúvida sobre por qual obra do diretor começar, o retrato alegórico da vida de Michael Peterson se faz insubstituível. Aliás, o fato do filme ser baseado na biografia do verdadeiro famigerado prisioneiro inglês só deixa tudo mais excitante; e nem precisava, pois a atuação de Tom Hardy por si só já é o suficiente para prender a atenção de qualquer espectador, inclusive dos mais insensíveis.

Trailer sem legenda


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Snuff 102 (2007)

Uma jovem repórter começa a desvendar certos segredos envolvendo Snuff Films. Entrando em contato com imagens chocantes, ela começa uma investigação que lhe direciona para o verdadeiro significado da violência.


Filme argentino com abordagem curiosa sobre o tema dos Snuff Films. O mais interessante é como se coloca em discussão explícita a relação entre o corpo (neste caso, principalmente, o feminino) e seu desmembramento numa sociedade de consumo onde o avanço dos meios de comunicação abrem brechas para que o anonimato possa vir a ser tido como divindade.
Cinematograficamente falando, o maior mérito de "Snuff 102", um filme de baixíssimo orçamento e que talvez justamente por isso beire uma espécie de crueza amadora que acaba por se tornar seu estilo, está no uso surpreendentemente criativo de certos recursos narrativos como a alternância entre os takes em cores e P&B, o uso pontual de sequências em câmera lenta e a eficiente iluminação. A trilha sonora também não deixa a desejar no que diz respeito a conferir eficiente climatização para a obra.
Que fique claro que "Snuff 102" não concentra sua trama nas cenas de morte. Inclusive, é decepcionante que, justamente numa dessas cenas, haja uma espécie de corte no qual se lê que "uma das virtudes do cinema é não mostrar tudo". Inusitado que num filme desse naipe ocorra tal colocação incoerente que só pode ser uma provocação niilista ou uma hipocrisia descarada - ou quem sabe ingenuidade mesmo. Enfim, tirando este porém, ou até com ele incluso, experiência válida para apreciadores do gênero.
Ps: comparações com filmes da série "August Underground" soam despropositadas. Tais filmes são extremamente viscerais, carecendo de trama e quaisquer tipo de reflexões sobre a violência que trazem, cabendo somente ao espectador digerir o que viu; sendo que isto é o suficiente para uma grande distinção com relação ao filme de Mariano Peralta.

Trailer sem legenda

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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Shadow - Na Escuridão (2009)

Jovem soldado americano viaja para fazer mountain bike e se interessa por menina. O problema é que ele também acaba encontrando violentos caçadores dipostos a fazê-los de caça.


Que Deus abençoe os italianos. "Shadow" já é um pequeno clássico do horror moderno. Federico Zampaglione se apropria de elementos do gênero "Torture Porn" em filme com grande influência de mestres que são seus conterrâneos como Argento, Bava e Deodato.
No mais, se o enredo desolador por si só é um destaque, a trilha sonora descaradamente inspirada naquelas compostas pelo grupo Goblin só se compara à atuação de Nuat Arquint, que incorpora assustadoramente um grotesco vilão.

Trailer legendado.

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Disco The Stone Roses (1989)

Divisor de águas do rock inglês, este disco influenciou em diferentes níveis gente brasileira mais antenada no que o ritmo podia oferecer de mais interessante no começo da década de 90. O Stone Roses cimentou um padrão de estética musical e comportamental que em muito viria a influenciar, nem sempre de maneira benigna, o posterior "Britpop" e o chamado "indie" da inglaterra no geral. Peça essencial.


1  I Wanna Be Adored   
2  She Bangs The Drums   
3  Waterfall   
4  Don't Stop
5  Bye Bye Badman   
6  Elizabeth My Dear   
7  (Song For My) Sugar Spun Sister   
8  Made Of Stone   
9  Shoot You Down   
10 This Is The One   
11 I Am The Resurrection 



Belíssimo e completo show do grupo em sua melhor forma. Há um tempo poderia ser achado em VHS numa videolocadora perto da sua casa. Agora está aqui.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Bamboo House of Dolls (1973)

Um grupo de soldados japoneses invade um hospital chinês em plena Segunda Guerra Mundial a procura de um piloto americano. Eles destroem tudo e matam todos por onde passam. Após encontrarem o piloto e também matá-lo, levam todas as mulheres para um campo feminino de concentração, onde elas passarão pelas mais brutais torturas e humilhações. Um grupo delas, liderado pela enfermeira Jennifer, então planeja uma "fuga impossível".


Típico filme que o Sr. Quentin Tarantino pegaria, embrulharia para presente em papel hollywoodiano e que os desavisados consumiriam como sendo algo totalmente novo e autoral. Bom chamar a atenção para o fato disso não tirar o mérito do cineasta americano. Ele traz boas e inusitadas referências aos seus filmes. O.K., o espaço aqui é pra dar opiniões sobre "Bamboo House of Dolls", mas após ver apenas a montagem dos créditos iniciais e a trilha sonora que a acompanha, fica difícil não pensar no quanto este tipo de cinema influenciou o famigerado diretor de Pulp Fiction.
E que tipo de cinema é "Nu ji zhong ying"? Seria um épico-exploitation de Hong Kong? Toda a estética que caracteriza filmes do gênero exploitation setentista, como o abuso da viollência e do sexo de uma forma gratuita e apelativa e banal, numa tentativa sem vergonha de atrair mais público para as salas de exibição, no limite do que era permitido para a época, está lá. Acontece que o apreciador de exploitation facilmente percebe que nesta obra houve um orçamento maior e melhor aproveitado. Perseguições, explosões, lutas e um certo senso de comédia são bem trabalhados; e até tecnicamente o filme surpreende, demonstrando maior profissionalismo que outros do gênero, seja pela competente direção de figurantes ou pelos enquadramentos criativos e abrangentes.
A curiosidade para ver outros filmes de Chih-Hung Kuei aflora.

Trailer com legenda em inglês




Confessions (2010)

No último dia de aula em uma escola, uma professora se despede dos alunos dizendo que não vai mais lecionar. Ela ainda faz uma afirmação: sua filha de apenas 4 anos de idade, que supostamente teria morrido afogada na piscina do próprio colégio, na verdade teria sido assassinada por dois estudantes daquela mesma classe. Logo em seguida a mulher anuncia que vai se vingar.


Muito legal. Os orientais, tendo em mente a trilogia de Park Chan-wook entre outras obras, têm uma concepção bem diferente de vingança se comparados aos ocidentais - ou, ao menos, tratam o tema de maneira bem distinta em filmes. Bom, é fato que a visão de vida dos asiáticos é circular, diferentemente da linearidade adotada por europeus e americanos. Isto é refletido em suas artes, cinema incluso.
O fator "causa-efeito" em "Kokuhaku" é permeado por tantas tramas e subtramas bem sucedidas em hipnotizar o espectador que a motivação original de todo o enredo, relegada a planos secundários em vários momentos, só retorna em toda a sua excelência no final extremamente impiedoso. A reflexão que fica para quem faz a viagem de Tetsuya Nakashima até o fim e se sente de alma lavada vai além da questão acerca da justiça com as próprias mãos. "Confissões" põe à prova a crueldade própria de cada espectador e isto supera seus méritos cinematográficos, que por si só já são imensos.
O ponto negativo do filme fica por conta do uso repetitivo de cenas em câmera lenta acompanhadas por música do grupo Radiohead, o que por muitas vezes prejudica o clima e o andamento da narrativa.

Trailer legendado em inglês



domingo, 5 de agosto de 2012

Alucarda (1977)

"Uma jovem chega a um convento após a morte de seus pais, fato que marca o início de uma série de eventos que liberta uma presença maligna na garota e na sua misteriosa nova amiga, uma enigmática figura conhecida como Alucarda".


Imagine o inferno de Bosch encontrando com "O Exorcista" lésbico e um cinema nunsploitation por Alejandro Jodorowsky, tudo isso condensado em pouco mais de uma hora: "Alucarda, La Hija de Las Tinieblas". Este filme mexicano do curioso diretor Juan Carlos Moctezuma se concentra mais em sucessões imagéticas, com mistérios ocultos em cada plano, que em pormenores narrativos. A consequência é uma obra de horror catártico.
A obviedade da questão Satã Versus Igreja se torna menor diante de vários méritos cinematográficos; dentre eles estão a precisa edição de som, que contribui para a ondulação crescente de histeria e as atuações pontualmente teatrais, que abrem caminho para o exagero dar seu tom ao caos.
Para concluir, um final apoteótico não é suficiente para Alucarda, que ainda brinda o espectador com uma das cenas mais assustadoras da história do cinema de terror: Justine, saída de um caixão onde boiava em sangue, de pé toda lambuzada pronta para o ataque. Sensualidade e morbidez em obra que mais parece um pesadelo despido e cru. Fantástico!


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

The Show (1927)

Circo itinerante diverte o público com diversas pequenas apresentações, culminando sempre no número mais aguardado: uma encenação da dança sensual de Salomé para o rei Herodes e a decapitação de João Batista. Enquanto isso, um assassinato ocorre na cidade e uma morte envolvendo uma apresentação do circo intrigam a polícia.


Tod Browning é fantástico. Sendo um cineasta de universo todo próprio, é interessante como o aspecto circence perpassa alguns de seus melhores filmes que abordam lados obscuros da natureza humana. Como em "Freaks" ou "The Unknown", o espetáculo em "The Show" empresta uma aura onírica a dramas nos quais a corrupção da virtude está em jogo. Acontece que o senso de irreversibilidade incômoda que dá tons gerais a "Freaks" e "The Unknown", aqui é abrandado pelo que se pode chamar de autêntico final feliz; mesmo assim, os aspectos sombrios do enredo não desbotam durante o desenrolar da trama. Válido.
Destaque para a atuação de Lionel Barrymore.





quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Estripador de Las Vegas (2004)

"Estripador de Las Vegas" conta a história de um fotógrafo de moda cuja verdadeira vocação é matar. Assombrado por traumas de sua infância, ele se transforma em um serial killer. Sua namorada, Charlotte, nunca desconfiou de nada, mas ela logo descobrirá a verdade da pior maneira possível. Dirigido por Nick Palumbo, "Estripador de Las Vegas" tem sangue, sexo e brutalidade.


Legalzinho. Talvez o diretor, produtor e roteirista Nick Palumbo estivesse querendo realizar um filme de terror chocante, mas acaba por divertir o espectador com um hilário trash explicitamente acidental.
Mulheres cobertas de sangue - neste caso um sangue muito mal feito, diga-se de passagem - é quase que uma das conveções comuns ao horror no cinema. Este recurso, quando bem explorado, já salvou muitos filmes da completa irrelevância. Seria o caso em "Estripador de Las Vegas", onde o psicopata misógino que dá título ao filme não aparece em nenhum momento, nem por sugestão, estripando literalmente suas inúmeras vítimas.
Acontece que o mérito do filme não reside apenas na nudez "softcore" feminina ou em sua sanguinolência de quinta categoria. A atuação do protagonista é divinamente tosca em sua ingenuidade, tipo um Cigano Igor, tão expressivo quanto um bloco de concreto. É de morrer de rir.
Isso sem falar no cômico, porque previsível, constrangedor e enorme clichê: o serial killer em questão é um descendente de alemães que leva a vida atualmente nos E.U.A. Dá pra imaginar de qual postura política seus antepassados não muito distantes eram adeptos, não? Sem mais palavras.
No final, a impressão que fica é de que o espectador está sendo presenteado com a mesma estória com a qual já teve contato milhões de vezes antes, só que contada de maneira tão mambembe que, dependendo do humor de quem se dispõe a vivenciá-la, a experiência pode divertir. Afinal, o que é aquela parte final com uma frágil menininha vencendo o forte monstro de instinto assassino irrefreável numa briga senão uma piada?
Destaque para a pequena participação de Gunnar Hansen, o primeiro e eterno Leatherface.


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