domingo, 30 de dezembro de 2012

Elvis on Tour (1972)

Documentário sobre Elvis Presley na sua rotina de shows.


Delicioso documentário musical de inestimável valor para fãs de Elvis Presley. Uma espécie de "crônica viva construída a partir da série de concertos realizada em 1972 através de várias cidades americanas". O filme, vencedor do Globo de Ouro de Melhor Documentário, mostra a euforia dos fãs do Rei, alguns números musicais memoráveis e cenas de bastidores dos shows - sendo estas últimas as mais interessantes, pois menos usuais.
Alguns espectadores atuais podem reclamar do excessivo uso do recurso de divisão de tela, mas não se deve esquecer que para a época esta opção narrativa era relativamente inovadora e sua aplicação supostamente deveria conferir dinamismo à obra. Se o processso é bem sucedido, ou não, é uma questão de gosto pessoal.
Destaque para a interpretação de "Love Me Tender", que após ser anunciada como a música de seu primeiro filme, é permeada por um Elvis que a todo momento interrompe seu canto para dar bitocas na boca de suas fãs enquanto uma sequência paralela (uma das extras supervisionadas por Martin Scorcese) mostra galantes beijos retirados de cenas dos filmes da carreira do Rei.

 Trailer sem legendas.

Dr. Morte (1974)

Um astro de filmes de horror volta a interpretar o papel que lhe deixou famoso após passar anos numa instituição para doentes mentais. Acontece que tal personagem parece estar cometendo assassinatos independentemente da sua vontade.


Muito bom. Uma espécie de "produção da Hammer encontra Mario Bava e filmes giallo". A função metalinguistica é muito bem aplicada em "Madhouse". A questão do filme dentro do filme, auxiliada por um eficiente processo de montagem, potencializa situações e sentimentos importantes para a trama e chega, às vezes, a funcionar como uma verdadeira homenagem ao ator Vincent Price. E o cara está magnífico. Se por um lado a simpática maquiagem de um de seus personagens, o Dr. Morte, faz o espectador se perguntar até que ponto ela teria influenciado diretamente o "Horror Punk" e o "Black Metal"; por outro, a elegância de sua interpretação se esparrama em momentos como seu monólogo final, pouco antes de Paul Toombes tacar fogo no próprio corpo em cena angustiante.
E por falar em cena... o que dizer do embate entre Price e o sempre necessário Peter Cushing? Lembra "O Túmulo Vazio", filme no qual também há um confronto mortal entre dois outros ícones do cinema de horror, Bela Lugosi e Boris Karloff. Talvez a sensação despertada por tais cenas seja a mais próxima da associada à expressão "duelo de titãs".
No mais, se a autoria dos crimes em "Dr. Morte" sempre pareceu óbvia, ainda mais para fãs de filmes de terror, o prisma de loucura que reina no desfecho da obra é surpreendente. Aliás, certas situações que pareciam jogadas com desleixo no enredo - como a morte de um diretor deitado numa cama por um toldo e seu parco desenrolar, que irritantemente aparentava carecer de verossimilhança - passam a condizer com o todo, pois tal final põe em cheque tudo que o precedeu conferindo a todos os conflitos passados distintos e abertos pontos de vista.
Destaque para a música dos créditos finais, que aparece em outro momento do filme, pois da maneira como é inserida em determinado contexto ela passa a assumir relevância surrealmente bizarra.

 Trailer sem legendas.

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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Desafio do Além (1963)

Dr. Markway é um pesquisador que faz experiências com fantasmas. Ele então se interessa pela mansão "Hill House", que tem um passado de muita morte e violência. Para fins de "estudos", lá ele reúne pessoas dentre as quais está Eleanor, cujo dom psíquico poderá ser uma possível ligação com os espíritos da velha mansão.


Eleanor 'Nell' Lance é uma insossa solteirona que viveu para cuidar da mãe que morreu recentemente. Desde então, Nell vem convivendo como um corpo estranho no seio da família de sua irmã. No convite para uma experiência numa casa "mal-assombrada", a infeliz mulher econtra a possibilidade de achar algum sentido para a sua vida. Sedenta por existência, ao depositar suas esperanças nos personagens que encontra no tal lugar, Nell se desilude por nunca ser querida como e quando desejava; mas isso só dura até ela e o espectador, não necessariamente nessa ordem temporal, começarem a perceber que a outra protagonista da estória é a sua alma gêmea.
Este é o enredo de "Desafio do Além", uma pérola do cinema de terror. Robert Wise se mostra um diretor extremamente detalhista em todos os sentidos. Os movimentos de câmera e enquadramentos são muito criativos e cada objeto de cada take tem um porpósito, mesmo que subliminar. As composições dos personagens também são tão complexas quanto podem ser num filme sem que ele soe pedante, isto se revela tanto nas atuações quanto nos figurinos usados pelos atores.
Para completar o tom de minúcia geral, há o perfeccionismo com que as convenções do bom cinema de horror são usadas. Os sustos não apelativos são construídos num suspense de alto nível. Este só faz crescer, desde que ocorrem as pontuais e assustadoras advertências dos guardiões dos portões do inferno, neste caso, os caseiros. Enfim, eis uma fantástica obra que ajudou a cimentar os padrões do subgênero "casa mal-assombarda" na história da sétima arte. Se há algo nela de não encantador, é o uso exagerado de monólogos em off, mas nem isso consegue tirar o seu estranho brilho.

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domingo, 16 de dezembro de 2012

Calígula 2 - A História Que Não Foi Contada (1982)

Calígula, o famigerado louco imperador romano, tem um caso com uma jovem moura que planeja assassiná-lo, enquanto ele continua seu debochado estilo de vida recheado de sexo e violência.


Ao contrário do que alguns afirmam, "Calígula - A História Que Não Foi Contada" não é uma sequência do clássico de Tinto Brass e sim uma tentativa oportunista do guerreiro diretor Joe D'Amato de pegar carona no sucesso de seu conterrâneo. E nisso o filme foi bem sucedido. D'Amato é um curioso artista, que com orçamentos extremamente limitados, tinha o olfato aguçado para o êxito comercial. Se "Emannuelle" e "Canibal Holocausto" estavam fazendo sucesso, ele dava um jeito de misturar as duas coisas num filme seu, sendo que quase sempre o resultado de seus esforços apresentava uma originalidade orgânica, para o regozijo dos fãs de cinema extremo e tranqueiras afins.
"Calígula - A História Que Não Foi Contada" está longe de ser o melhor trabalho de D'Amato, apesar de nele também ocorrer a parceria que se tornou notória entre o diretor italiano e a enigmática beleza de cobre da atriz Laura Gemser. Tudo bem que a cópia que está circulando no mercado, da gravadora "Cult Classic", também não ajuda. O produto é tratado com desleixo: falas erroneamente ora em inglês, ora em italiano, são muitas vezes repetidas no que fica parecendo um erro de pós-produção e a imagem está muito maltratada. O consolo é que a versão apresentada aqui é a mais longa, com as cenas de sexo explícito na suruba que são algumas das melhores de todo o filme, em contraposição ao softcore mal aproveitado pois registrado de maneira chatinha e encabulada.
De resto, é no mínimo intrigante ver a última hora deste filme com um Calígula cheio de dúvidas existenciais que, por mais rasas que possam parecer, apresentam um prisma distinto do imaginário coletivo. Vale resslatar que esta "humanidade" não priva o espectador de algumas cenas de violência, como a de empalamento, bem "legaizinhas".

Trailer em inglês sem legendas.

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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Cat in the Brain (1990)

Lucio Fulci é um torturado diretor de filmes de horror motivado pela violência que vivencia dentro e fora dos "sets" em que trabalha. Sentindo estar perdendo seu senso de realidade e perturbado por suas fantasias assassinas, Fulci procura um psicoterapeuta. O "analista" faz uso da vulnerabilidade do cineasta para satisfazer seus próprios fins sanguinários.


Houve uma época em que várias produções de terror italianas se utilizavam do nome de Lucio Fulci para se autopromoverem, isso mesmo quando o diretor não tinha nada a ver com elas. Fulci geralmente entrava na justiça reivindicando seus direitos. Perdeu alguns casos e decidiu usá-los a seu favor, uma vez que passou a ter domínio sobre várias obras com as quais não tinha qualquer ligação real. Aí ele saiu recortando as melhores cenas de violência que encontrou nelas, fazendo o mesmo com alguns de seus próprios filmes anteriores, rodou mais algum horror gráfico e criou uma estória com um contexto no qual pudesse juntar tal sangueira. Por fim decidiu colocar-se atuando no filme, pois se a mera menção de seu nome poderia vender mais, o que dizer de sua aparição na tela?
O resultado é uma autêntica obra Fulciana na qual o gore chafurda. É como se Herschel Gordon Lewis tivesse chegado aos anos 90 vendo pornochanchada numa sala dentro do Cinecittà enchendo a pança de espaguete com parmesão. A diversão é garantida para quem vê no carnaval da repugnância uma alegoria da comicidade.
Em alguns momentos, vozes de lamento agonizante que fazem parte da trilha lembram Mojica Marins. E, continuando no campo de comparação, determinada cena de "A Cat in the Brain" que é uma homenagem direta ao assassinato no banheiro de "Psicose", acaba por dar a dimensão exata do que seria o legado do autor italiano: cinema de açougueiro para "filmívaros".
Direto, explícito, sem firulas e desculpas. Dê a seus fãs o que eles desejam, por mais grotesco que possa parecer. Viva Lucio Fulci!

Filme completo no youtube dublado em inglês sem legendas.


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

The Blind Dead Series


Espanha nos anos 60 pra 70. Após 40 anos de um regime estritamente autoritário, o povo espanhol se mostrava intensamente interessado nos "prazeres proibidos" que podiam ser desfrutados no escurinho do cinema. Aí o horror, como gênero, começa a ter destaque em forma de fenômeno cultural e comercial. Ao perceber que vampirismo, lesbianismo, sadismo e outros temas até então menos recorrentes nas telonas causavam grandes filas nas entradas dos cinemas; muita gente começou a produzir filmes de terror no país das touradas.
Acredita-se que este segmento do cinema espanhol tenha trazido, pelo menos, dois personagens emblemáticos e particulares ao imaginário mundial: o primeiro teria sido o Dr. Orlof, do diretor Jess Franco; o segundo teria sido A Ordem dos Cavaleiros Templários, criado por Amando de Ossorio.
A espécie cega de zumbi/vampiro/múmia criada por Ossorio, mesmo que superficialmente baseada em personagens históricos, era algo sem precedentes na filmografia de horror e, por isso mesmo, o diretor teria encontrado dificuldades para produzir o primeiro filme da saga que, uma vez bem sucedido comercialmente, abriu caminho pra mais três produções.
Como seus conterrâneos irmãos de gênero, a saga de 4 filmes de Ossorio que lhe trouxe fama mundial, foi constituída de obras de baixo orçamento feitas no máximo em 4 ou 5 semanas. Só por causa de todas as dificuldades de produção, os feitos temáticos, estéticos, atmosféricos e que incluem interpretações e efeitos visuais, já deveriam ser apreciados (hoje em dia não se fazem longas para circuito comercial sob tais condições). Somando-se a isso a boa capacidade do diretor para reiventar algo mitológico que faça parte da cultura popular, transformando a estória real da Ordem Medieval dos Cavaleiros Templários num novo contexto com personagens arquetípicos ineditamente num gênero, já traz um sopro de ar fresco válido para qualquer fã de filmes de horror.

Tombs of the Blind Dead (1972)

No século XIII havia uma legião de malignos cavaleiros templários que, em busca da vida eterna, bebiam sangue humano e realizavam sacrifícios. Excomungados e assassinados, eles tiveram seus olhos arrancados por corvos. No presente, aqueles que passam por determinadas ruínas durante a noite são obrigados a enfrentar a fúria sangrenta dos templários que, como mortos-vivos, dão continuidade às suas atrocidades.


Filme de zumbi que muito pouco deve à escola de Romero ou à pré-Romero, que usualmente associa os mortos-vivos com a prática do voduísmo. Em "Tombs of the Blind Dead" os zumbis são Cavaleiros Templários cegos que buscam suas vítimas pelo som que emitem e possuem um visual de múmias medievais assustador misturado ao ato de vampirismo. No mínimo original, né?
As sequências dos zumbis cavalgando em "slow motion" é simplesmente fantástica e o uso de tal recurso sublinha o quê quimérico delas exatamente como traduz a violência num filme de Sam Peckinpah. Em tais momentos mais inspirados o espectador tem a certeza de estar diante de uma autêntica estória gótica de fantasmas. O canto gregoriano que acompanha a aparição dos cavaleiros também contribui para tal sensação, de resto os melhores momentos da trilha sonora são quando esta soa como efeitos eletroacústicos.
Tirando isso, a obra também traz outras partes ótimas, como a cena de estética mario baveana onde sob uma luz neon vermelha oscilante uma zumbi seminua caminha num corredor por entre manequins, a ideal imagem da morte que seduz e ameaça.
Outra sequência muito legal é a do palpitar do coração da vítima em potencial, chamando a atenção dos zumbis cegos, seguido de closes sequenciais produzindo um suspense meio hitchcockeano. A cena no necrotério, com o balanço da luz como uma paródia noir, contando com a comédia na interpretação do legista seguida de uma piada de humor negro barato divertem. O final caótico e pessimista em aberto para uma nova sequência também merece destaque.
No mais, de um ponto de vista estético, tem bastante coisa interessante, desde o enquadramento que faz uma fogueira causar uma nudez parcial feminina até o simples e visceral quadro de um sapo pulando numa poça de sangue.
De resto, pra você que curte polêmicas, há lesbianismo debaixo de um crucifixo, apesar do softcore ser contido, também há cavaleiros cortando uma virgem a espadadas para depois chuparem seu sangue, estupro em cemitério e criancinha chorando com a face borrifada com o sangue da mãe; já pra você que espera um bom roteiro e boas atuações... bem, vá procurar outro filme.
Dentre outras coisas, filme indicado para quem consegue sentir empatia por mãozinhas cadavéricas.

Trailer em inglês sem legendas.

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Return of the Evil Dead (1973)

Cavaleiros Templários praticantes de magia negra aterrorizam os moradores de uma vila espanhola no ano de 1550. Os habitantes do lugar se unem e massacram os fanáticos. Passados 500 anos, no aniversário do massacre, os zumbis saem de seus túmulos para a vingança.


Bom, "Return of the Evil Dead" não é bem uma sequência de "Tombs of the Blind Dead" no sentido de que "Return..." não começa de onde o filme anterior parou e a versão para a estória original dos Templários ser completamente diferente: aqui os cavaleiros têm seus olhos queimados por aldeões enfurecidos ao invés de devorados por corvos. 
Aliás, tal sequência de abertura já promete mais "gore" que em "Tombs...". E a promessa se cumpre no desenrolar do filme com cenas bem violentas. Uma delas, em que os Templários torturam uma mulher abrindo seu peito e comendo seu coração, chega a lembrar o melhor do mestre Herschel Gordon Lewis. E tome-lhe peitinhos "fake" cortados e sangrando. 
Do primeiro filme da saga tem-se o canto gregoriano quando da aparição dos zumbis, o uso dos mesmíssimos takes quando da ressurreição dos cavaleiros (fato que sublinha a questão sempre presente do baixo orçamento) e a grande sacada, aqui melhor explorada, da cavalgada em "slow motion". Pra falar a verdade, "Return..." tem um enredo melhor e um roteiro mais ágil e bem elaborado que "Tombs..." e, por muitos, é considerado o melhor, e não apenas por ser o mais violento, filme dentre os 4 da saga. 
Pra melhorar, os mortos cegos ficam em cena durante a maior parte do filme e a sequência em que eles invadem o festival da cidade massacrando as pessoas é de uma brutalidade caótica muito bem dirigida. Somado a isso, o espectador ainda é brindado com a visão da face putrefata de um dos cavalos fantasma; e é bom dizer que o figurino maltrapilho dos equinos vem bem a calhar. 
No entanto, a sombra de "Night of the Living Dead", do querido George Romero, se faz presente quando os personagens remanescentes do massacre se trancam em uma igreja. Toda a dinâmica claustrofóbica da cena, incluindo o conflito de interesses entre os personagens, levando-se em conta ainda o recurso do fogo para espantar os zumbis com o intuito de chegar ao carro que se encontra ali perto torna impossível não traçar comparações com o clássico de 1968. 
Como para contrabalancear a tensão, alguns momentos de comédia, como os representados por um comissário bonachão e sua empregada que lhe concede, dentre outras coisas, favores sexuais. Momentos de graça dignos de boas pornochanchadas. 
De resto, o final deixa um pouco a desejar; mesmo assim, outro filme super indicado para quem consegue sentir empatia por mãozinhas cadavéricas.

Trailer em espanhol com legendas em inglês.



The Ghost Galleon (1974)

Cavaleiros Templários satanistas em forma de zumbis caçam vítimas humanas num galeão do século XVI.


De longe, o pior filme dentre os 4 da Saga dos Blind Dead. Os personagens não causam entusiasmo, fazendo com que o espectador torça pelos zumbis, o que não parece ser a intenção de Ossorio. Pra piorar, a trama se arrasta em longas sequências de mulheres perambulando pelos decks e corredores do navio enquanto os mortos-vivos, quando as atacam, arrastam-nas PARA FORA DO QUADRO afim as matá-las. Como que pra compensar tal fiasco, a melhor cena, e mais gráfica, é a da morte de uma loura. Esta começa sendo estrangulada por uma mãozinha cadavérica sendo então desmembrada com os seres a sua volta desfrutando de seus restos mortais de maneira gustativa. 
A noção de um navio existente na sua própria dimensão de zona temporal é bem conduzida e a neblina que constantemente envolve o cenário como um personagem à parte muito provavelmente influenciou o superior filme com navio fantasma "The Fog", de John Carpenter (1979). 
Apesar de sempre apresentarem um visual "ótimo", os Templários parecem não funcionar tão bem longe da terra, onde sua já clássica cavalgada em "slow motion" sublinha seu quê fantasmagórico. Ainda há também uma subtrama sobre um tesouro perdido que é tão mal desenvolvida que nem mereceria menção, caso não fosse realmente tão mal desenvolvida. 
Dependendo do ponto de vista, a malfeita maquete que representa o navio pode ser charmosa e partircularmente divertida no take em que se incendeia. Ponto positivo para o final de “The Ghost Galleon”, quando os mortos-vivos emergem das profundezas do oceano e, numa sequência de tomadas inspiradas numa praia, cercam os dois únicos exasutos sobreviventes do pesadelo.


Filme completo no youtube em inglês sem legendas.



Night of the Seagulls (1975)

Os Cavaleiros Templários Mortos-Vivos retornam no quarto e último filme da franquia "Blind Dead". Neste, os zumbis aterrorizam um vilarejo pesqueiro, local onde despertam durante sete dias a cada sete anos exigindo sacrifícios para que os locais continuem em segurança.


Bom desfecho para a franquia "Blind Dead". Alguns podem comparar o enredo central da estória, que inclui uma tradição local de deificar entidades antigas a clássicos do escritor H.P. Lovecraft como "The Shadow Over Innsmouth" e "Dagon". Forçação de barra. Fato que não quer dizer que não haja sacadas poéticas, como as gaivotas que aparecem à noite representando as almas das meninas que já foram sacrificadas.
O roteiro ajuda a dar bom ritmo a “Night of the Seagulls”, que embora apresente pouca nudez e apelo sexual, não poupa o espectador de cenas bem violentas, como a de um coração sendo removido e mostrado pra câmera, mais uma vez lembrando o gore colorido do Sr. Herschel Gordon Lewis; e alguns takes bem nojentos que incluem caranguejos passeando por entre os restos mortais das vítimas desmembradas.
Além de belas tomadas dos Templários cavalgando pela praia, outro ponto positivo está na empatia que Ossorio consegue criar entre o espectador e seus protagonistas, forasteiros que acabam de chegar numa comunidade que lhes é estranha tentando entendê-la para ajudá-la. Acaba que eles se esforçam em proteger um retardado e uma das meninas que seria sacrificada. Mas o diretor não amolece e ambos, tanto o retardado quanto a menina, acabam morrendo.
As sequências dos locais levando as meninas para serem sacrificadas pelos Templários na praia é perturbadora e o jeito que eles maltratam o retardado acima citado, somado ao fato da facilidade que teriam para destruir os zumbis, fazem o espectador se questionar quais seriam os verdadeiros monstros da estória.
Aqui, como no filme anterior, não há menção ao monastério de Berzano; fato que não impede Ossorio de usar os mesmos takes dos dois primeiros filmes para mostrar os Templários saindo de suas tumbas. Aliás, os zumbis ficam pouco tempo em cena e são quase periféricos ao enredo, mas sempre que aparecem, são eficazes em captar a atenção até dos mais distraídos.
Comparações com "Night of the Living Dead" de Romero poderiam ser feitas, quando os zumbis cercam a casa onde se encontram os quatro sobreviventes, enfiando suas mãozinhas cadavéricas por cada fresta possível: claustrofobia pura, boa e clássica.
Por fim, o perecer dos Templários é horrendamente divertido, com sangue jorrando aos borbotões de seus olhos sem órbitas. Infelizmente, esta é a última aparição destes terríveis seres, o último soluço de uma grande e verdadeiramente única criação gótica que é tão potente agora como quando foi concebida.

Filme completo no youtube em inglês sem legendas.

The Agony and the Ecstasy of Phil Spector (2009)

Phil Spector é um pioneiro da música americana, lendário por seu marcante trabalho como produtor musical de diversos artistas importantes. Em 13 de abril de 2009 ele foi condenado por assassinato.
O Spector que aparece neste documentário não é o réu sério com penteados bizarros apresentado pela mídia sensacionalista durante o seu julgamento, mas sim um encantador e experiente executivo do meio musical com uma perspectiva generosa, muito embora discutível, de seu próprio lugar na história da música popular americana.


Documentário extremamente envolvente. Nele explora-se o significado da técnica de produção denominada por Spector de "Wall of Sound". O espectador também entra em contato com o Phil Spector executivo, músico e compositor; facetas do artista menos conhecidas do grande público.
Interessante também são as várias estórias que o produtor conta sobre suas relações com figuras importantes da música pop: numa delas está John Lennon afirmando que, após Elvis Presley ter ido para o exército, quem teria salvado o rock'n'roll nos E.U.A. teria sido Phil Spector; noutra está Brian Wilson, enlouquecendo na ânsia de imitar, sem sucesso, a sonoridade da belíssima "Be My Baby", das supremas "Ronettes", grupo feminino cuja vocalista principal foi casada com Spector.
De resto, o filme procura abordar a progressão das perspectivas do crime pelo qual ele foi condenado. O assunto é bem interessante, mas menor diante do enorme talento de uma das figuras mais subjacentemente influentes da música pop do século passado.

Filme completo no youtube em inglês sem legendas. Imperdível!


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Carnaval de Almas (1962)

Depois de um acidente traumático, mulher é atraída a um local misteriosamente abandonado onde costumava acontecer festividades.


Provavelmente o filme que David Lynch sempre quis fazer, "Carnival of Souls" é mais um exemplo de como um orçamento baixo pode beneficamente aguçar a criatividade. A obra, que já começa com uma pancada, a posteriori vai se desnudando como um clima, uma sensação. Talvez nela esteja um dos enfoques mais despretensiosamente poderosos dados à paranoia de um pesadelo.
Sublinhando a etérea viagem do espectador está a incrível e fantasmagórica trilha sonora composta para órgão por Gene Moore - a protagonista da estória é uma organista de igreja - que se faz pontual. Outro destaque é para a fotografia economicamente bela, num jogo de contrastes de uma classe quase expressionista.
De resto, se há algum problema com o ritmo da narrativa que às vezes parece truncada, ele é eclipsado pelo resultado final do todo.

Filme completo em inglês no youtube sem legendas.


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Lulu in Berlin (1984)

Louise Brooks fala de detalhes da produção de "Pandora's Box" e "Diary of a Lost Girl" e sobre seu colega Carl Goetz; sua convivência com o cineasta expressionista Georg Wilhelm Pabst, comparando seu método de trabalho com o de Ernst Lubitsch; seu encontro com Rene Clair; o motivo de Marlene Dietrich não ter sido a escolhida para interpretar Lulu; faz comentários sobre Greta Garbo e Leni Riefenstahl; e ainda apresenta considerações sobre o relacionamento com seu ex-amante George Preston Marshall.


"Por isso eu nunca fui uma atriz. Nunca estive apaixonada por mim" - esta é uma das frases ditas por Louise Brooks nesta longa entrevista que cumpre o que se propõe, trazendo mais humanidade ao mito numa viagem por uma parte da história do cinema. Vale conferir.

Primeira parte do documentário em inglês e sem legendas no youtube.

Segunda parte do documentário em inglês e sem legendas no youtube.

 Tereceira parte do documentário em inglês e sem legendas no youtube.

Quarta e última parte do documentário em inglês e sem legendas no youtube.


A Caixa de Pandora (1929)

A ascenção e a inevitável queda de uma jovem mulher amoral, no entanto ingênua, cujo erotismo indiferente inspira luxúria e violência àqueles ao seu redor.


Ótimo filme. Imperdível para amantes da sétima arte. As contribuições entre Louise Brooks e G.W. Pabst têm caráter icônico na história do cinema. E nem há um explicação lógica para isso. Certos acontecimentos são dotados de uma espécie de convergência que do acaso criam magia. Certamente "Pandora's Box" está à frente do seu tempo no tratamento usual de temas, uns mais e outros menos diretamente, muito espinhosos pra época como o homosexualismo, a prostituição, o incesto e a luxúria exacerbada. Não se deve esquecer que apesar de seus fins, há sim um ar de espírito livre para a posição da mulher na sociedade, levando-se em conta o machismo vigente. Também há uma certa complexidade na concepção dos personagens; como no caso do velho bêbado, meio pai, meio amante de Lulu. Nesta obra a sugestão, e não a certeza, é a regra.
No entanto, muito embora Pabst se mostre um exímio diretor de atores, extremamente detalhista com relaçao às questões que envolvem o cenário como um todo, isso incluindo figurinos, sombras e até fumaça em cena; deve-se considerar que ele está longe de ser um inovador e experimentador de técnicas cinematográficas da época, como é o caso de um Murnau, por exemplo.
A própria Louise Brooks não era uma grande atriz. E quem disse que se precisa ser uma grande atriz para se fazer história? Clara Bow, Marilyn Monroe, Jayne Mansfield e Brigitte Bardot estão aí eternamente para corroborar com a teoria de que a criação de mitos é algo para além da compreensão humana. O carisma destas figuras na tela, a maneira como a atenção do espectador é dragada para elas é algo divino que faz das questões profissionais meramente burocráticas. E a figura representada por Brooks, aquela da menina de cabelo chanel, de uma beleza pura e sexualidade andrógina que está no imaginário de todo cinéfilo, presumivelmente estará ligada ao trabalho de Georg Wilhelm Pabst para sempre. Fato.
Para fãs da eterna moçoila e do diretor alemão recomenda-se uma checada no documentário "Lulu in Berlin" que está divido em quatro partes no youtube.

Filme completo no youtube legendado em inglês.