segunda-feira, 16 de julho de 2012

Resenha "Coração Envenenado - Minha Vida Com Os Ramones"

Coração Envenenado - Minha Vida Com Os Ramones, de Dee Dee Ramone e Veronica Kofman. Tradução de Paulo Salles. Editora Barracuda, 191 páginas. R$ 38,00



Não é segredo para quem já acompanhou entrevistas dadas por Douglas Glen Colvin, mais conhecido como Dee Dee Ramone, que o cara parecia ter um passarinho frenético preso dentro de sua caixa craniana. Isto está espelhado em sua escrita. É difícil imaginar o que seria de sua autobiografia, “Coração Envenenado – Minha Vida com os Ramones”, sem a co-autoria de Veronica Kofman. Talvez o livro ficasse tão prolixo quanto o romance de Dee Dee, “Chelsea Horror Hotel”, no qual descrições imaginariamente realistas passam uma impressão quase que de um processo de fluxo de consciência ironicamente inconsciente.
A sensação que predomina é a de que Kofman atuou como uma editora, aparando arestas e montando textos partindo de parágrafos prontos, como um pedreiro colocando tijolos na construção de uma parede. E talvez seja nisso que “Coração Envenenado” mais se pareça com uma boa música dos Ramones, grupo do qual Dee Dee era principal compositor e baixista: o muro textual é como o muro sonoro da banda num ritmo rápido, de curta duração e sem frescuras e espaços para o subtendido.
No prefácio para esta edição, o talentosíssimo jornalista André Barcinski escreve: “É uma das autobiografias mais honestas e sem-vergonha que já li”. Bom, honesta é difícil de dizer; mas sem-vergonha é um fato: “Quem entra numa banda como os Ramones não vem de um passado estável, porque essa não é uma forma de arte muito civilizada. O punk rock é feito por garotos furiosos querendo ser criativos. Acho que é por isso que os caras dos Ramones eram conhecidos por jogar, de apartamentos, TVs nas pessoas que estavam andando na rua” – alguém tem alguma dúvida?
Outra questão que é exposta neste livro são dois demônios que perseguiram Dee Dee durante toda a sua vida: heroína e crise de identidade. O primeiro é explorado, de forma até um pouco exaustiva e repetitiva, talvez de uma maneira que correspondesse à realidade do compositor, principalmente na parte final do livro; o segundo vem à tona nos inúmeros episódios contados nos quais Dee Dee tenta dissociar sua imagem dos Ramones - seja por um mero corte de cabelo diferente do costumeiro, seja pela gravação de um disco de “rap” – voltando sempre, de uma maneira ou de outra, ao seio da banda que ele diz no livro ser sua família, mesmo após ter saído oficialmente dela.
Enfim, o sujeito é um gênio da música que não se dava a devida importância e isto está refletido na maneira casual com que retrata seu convívio com Johnny Thunders e Stiv Bators, tanto quanto nas pinceladas lacônicas sobre sua infância na Alemanha e adolescência “outsider”. Os causos com relação aos Ramones são interessantes sob seu ponto de vista desglamourizado e sua visão dos outros integrantes do grupo, mesmo que superficial, é válida e muito condizente com outras biografias desses nova iorquinos que deram novo rumo ao espírito do rock.


Dee Dee Ramone morreu de overdose de heroína em 2002. Seu cabelo estava louro e ralo, muito diferente do corte tigelinha que usava nos Ramones, mas ele ainda tocava “Wart Hog”, sucesso do grupo, com as mais diversas bandas nos mais diversos lugares.

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