sexta-feira, 22 de junho de 2012

Resenha "Mortos Entre Vivos"

Mortos Entre Vivos, de John Ajvide Lindqvist. Tradução de Marisol Santos Moreira. Editora Tordesilhas, 360 páginas. R$ 44,90


John Ajvide Lindqvist, nascido em 1968, é mágico e comediante stand-up; ele também é escritor. Seu primeiro romance, Lat den ratte komma in, deu origem ao contemporâneo clássico cinematográfico de horror Deixa ela entrar (Suécia, 2008).  Mortos entre vivos é seu segundo romance.
Ao contrário do alardeado em sua capa, o livro, lançado no Brasil pela editora Tordesilhas e com tradução direta do sueco, está longe de lembrar “Stephen King na melhor forma.” Aliás, o terror de Mortos… está para os zumbis como A Saga Crepúsculo está para os vampiros - no sentido de transformar os monstros em seres que não oferecem perigo imediato e são quase dignos de pena. Lembrando que isto já poderia restringir a obra a certo tipo de público.
Tirando esta constatação, há o fator narrativo. Lindqvist tenta manter o leitor antenado dividindo a estória em tramas com horários consecutivos, o que daria uma falsa impressão de tempo real. Mesmo com tal esforço, que chega a segmentar os parágrafos por comunicados de Ministérios e entrevistas no rádio, fica difícil o maior interesse e curiosidade por parte de quem tenta adentrar no universo de uma Suécia moderna abruptamente incomodada por “revividos”.
Os principais núcleos de personagens, que incluem uma menina fã de Marilyn Manson e sua avó; um jornalista, sua filha e neto morto-vivo; e um ator que tem um filho com uma mulher recém-falecida, e suas inter-relações são tão mal explorados que fica difícil a criação de empatia.
O começo, com mortos revivendo sem nenhum motivo aparente, é interessante. Mais do que a descrição dada pelo autor do momento em que isto acontece - parte de rara angústia e morbidez no livro -, o simples fato da mola propulsora da obra ficar sem explicação é um grande ponto positivo, como nos filmes de George A. Romero. E quem se importa com o motivo de zumbis existirem se eles estão existindo?
Mesmo assim, em seu desenrolar, o romance vai assumindo uma perspectiva água com açúcar que é difícil de engolir. O final, que por um lado mostra a falta de misericórdia humana, abranda a mesma com uma espécie de redenção da alma através de uma figura denominada “Pescador”. Vai entender. A única explicação plausível está em acreditar que o atual "terror de massa" tem um novo e crescente público-alvo.
Enfim, a torcida é para que seja lançado aqui o Lat den ratte komma in e que ele tenha, pelo menos, um terço do lirismo macabro do filme sueco que inspirou.

2 comentários:

  1. "o simples fato da mola propulsora da obra ficar sem explicação é um grande ponto positivo, como nos filmes de George A. Romero"

    Concordo, tem muito filme pós-apocalíptico que tenta se explicar e acaba dando uma justificativa esfarrapada ou furada pra história, como aquele "Os Encurralados".

    Pelo que está escrito na contra-capa desse livro, eu tinha ficado com vontade de ler, mas agora passou!

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    1. Só pra esclarecer para possíveis leitores que "Mortos entre Vivos" não é um livro distópico ou de enredo com elementos pós-apocalípticos.
      ;)

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